E agora?

E agora José?

Maria já vem                                                    Ensaboa mulata, ensaboa. 

Que o pão em casa tu não tem.

E agora José?

Maria já vem.

Ensaboa mulata, ensaboa

Lava,passa e cozinha

que a padroa só reclama.

Tira onda de bacana

com a esmola que te dá

E agora José?

Maria foi-se embora

com um filho teu nas costas

não quer mais ensaboar.

E agora eu lhe digo

Esse é o meu castigo

por Maria pouco amar.
                                                                                                                         

Sou única

Sou única

Sou a única que não pode beijar

Sou a única que não pode estar perto

A única que não pode abraçar

Sou única

A menina que brinca no canto

Que faz da sua sombra seu manto

E o jantar é servido pra um

Sou única

Só, sozinha

Não triste, quase nunca.

Quase sempre infeliz.

Única, eu?

Sou única.

Eu

    Perguntam-me com certa frequência como consigo ser tal como sou. Minha boca pequena e mente despreparada sempre respondiam em comum acordo:

“- não sei.”

    Mas hoje entendo...

    A naturalidade e fluidez com que meus pensamentos se apresentam resultam, só e somente, da pouca importância que atribuo ao meu pensar.

Percepções à flor da pele

    Neste exato momento o tempo marca uma temporalidade irrelevante. Os espaços marcados pelo relógio querem me dizer alguma coisa que não entendo. Está perdido todo o significado de cedo ou tarde, e com isto, perde-se também o medo do futuro.

     Será que vasculhar a minha mente em busca de sentido pode resultar em agressão? Creio que sim. A prática que exerço sem qualquer precisão ou domínio transpira invasão, tentativa débil de no fim perceber que não estou só.

     Travo uma luta contra a natureza humana e ainda me atrevo a pensar que sairei viva. A grandeza do homem está na expectativa infantil de vencer sua própria existência, o egoísmo. Talvez essa seja apenas a minha expectativa, de todo o modo, palmas às almas que exaltadas foram por morrer tentando.