sábado, 31 de março de 2012

Dona Central, mãe de todos os filhos.

       A central. Hoje precisei estar lá, não por vontade, mas por necessidade. Olhei ao redor e parei para pensar em quantas vezes estive por lá. Muitas, foi a conclusão. Não sei ao certo porque depois de tanto tempo aquele lugar me chamou a atenção.

      Tive a certeza de estar pisando no chão mais triste do Rio de Janeiro (claro que estou considerando somente os lugares em que já estive). Ninguém fica realmente lá, as pessoas passam, correm. Há aquelas que trabalham, aquelas que visitam e ainda as que se hospedam. Quero que fique claro ao que estou me referindo, refiro-me ao terminal rodoviário (cujo nome não sei ao certo, portanto, chamarei de Rodoviária Central do Brasil) e a todos que por ali passam.

      Sujeira e obscuridade são o que vejo. Homens riem alto, felicidade denunciada pelo cheiro de álcool. Mulheres que não se reconhecem mais, elas esperam apenas serem consumidas.  Tudo parece tão cru que cheira ao natural. Estranho, palpável e amargo.

      Mas de tudo, o que prendeu minha atenção emotiva, caso ela exista, foi aquele senhor.  Sabe aquele homem que é visto naquela área todos os dias ao longo dos últimos anos? Aquele mesmo. Este velho conhecido de todos já não tem pressa de chegar no meio de tanta correria do dia-a-dia, não tem quem o espere para jantar.  Quando acho que ele vai pegar o ônibus, o vejo revirando o lixo. Ele estava em busca do que o cão de olhos tristes não quis mais.

     Começo a fingir que não vejo. Que não sinto o cheiro de sofrimento, frustração, arrependimento e medo nos corpos opacos que ocupavam aquele espaço. Sou leiga, uma turista, tal como o rapaz ao meu lado que tirava fotos de tudo por achar a pobreza encantadora. Eu pude ver que desconhecia o coração da minha cidade, porque sempre ouvi dizer que era Copacabana e esta eu bem conhecia como toda suburbana abobalhada que se preze. Como pude ser incapaz de enxergar em todos esses anos minha cidade tal como ela é? Só hoje via a alma do Rio nua.
    
     No fim do dia, enquanto me ponho a escrever essas palavras, o balaço do visto e descoberto surge. Vou admitir que por mais pobre e triste que seja aquele lugar, não consigo odiá-lo. Ele acolhe a todos e a tudo sem reclamações. Sinto em suas estruturas uma exaustão pelo desgaste, mas mesmo assim permanece erguida. Dito isto, sugiro uma reforma como forma de agradecimento. Eu sei que a tristeza ainda estará lá, contudo os olhos não mais arderão.

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