sexta-feira, 8 de junho de 2012

As cartas que não entreguei

  1.

  Eu quis ser livre e por isso fugi. Me escondi de você no canto escuro de uma praça mal frequentada. Vim buscar por solidão, mas agora todos os olhos que me rodeiam parecem me seguir. Como se fosse possível um ser se tonar mais importante do que qualquer trivialidade conversada. Bom, neste momento me parece bem possível. Isso faz com que eu me sinto cansada, com falta de ar. Sabe a última gaveta? A gaveta de tralhas? Eu me sinto a última gaveta. Por vezes acumulo tralha e pó, outras vezes acumulo pó e tralha. Tudo isso porque depositei minhas esperanças em um único momento que custa  a me abraçar. Deus, agora eu entendo. Eu sou o tédio.

  Escolhi por insegurança não abandonar o envelhecido. Marinei no mofado e acabei por me transformar no mofo. Acredito que o passado tenha a sua validade. Acredito não ser saudável revivê-lo mais do que o aceitável, mas é a única fumaça que tenho nesse exato momento. Não posso evitar de fumá-la.

  Tudo bem, não vou me apressar por tão pouco. Não tem razão para esquecer ainda. Ninguém me espera do outro lado. Sim, esse é o motivo. Me falta razão suficiente para esquecer , pois nunca fui de fazer por fazer. O desejo esteve lá quando me faltava explicação, porém, como agora ele se ausenta e, claro que também não tenho explicação, exito. Confesso que o ato de pensar na ferida tornou-se mais um hábito. Tranformou-se de maneira restrita em um ritual (sadomasoquista, admito) sem importância. Meus delírios estão perdendo o valor e a cada dia que passa sinto se aproximando a necessidade de continuar a vida. Deliberadamente me neguei a viver, mas não é com com vontade igual que se faz o caminho reverso. Depois que se opta pela não progressão da vida seu tempo desacelera. Se você não morre fisiologicamente, a natureza irá impôr. Tão certo como o Sol que se põe a nascer todas as manhãs, a vida precisa seguir seu curso e eu, obrigatoriamente tenho que voltar a viver.

  Bom seria se eu aceitasse tudo o que o acaso me dá com resignação. Nunca fui boa em ouvir. Nunca tive vocação para aceitar ordens. Nunca tive paciência para receber orientação. Na minha juventude mamãe sempre me dizia o que fazer, sentir e pensar. Hoje, mamãe que sempre dizia não fala mais. É, a sabedoria arrogante me caiu bem, por isso, convenci a todos que isso era bom. Agora choro amargamente na prisão que forjei com minha mente e ninguém até hoje veio me tirar de lá. 

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