sexta-feira, 27 de abril de 2012

Quintal do Éden

Já sei andar sozinha.
Cresci com pé no chão.
Vim de lá num pingo de chuvisco,
donde carinho e espinho são do mesmo coração.

Mamei lama grossa.
Dormi sem ouvir anetodas,
sonetos ou canções

Já sei andar sozinha.
Quebrei a casca com o dente,
sou filha de serpente,
do ninho fui ao chão.

Nasci grande e madura.
Sei piar canção bem baixo
quase cheiro de molhado
como chuva de verão.

Se eu soubesse uma oração
Seria filha do barro,
mas como só pio baixo
vim das costelas de Adão

Já sei andar sozinha,
cresci com pé no chão.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Era uma vez o que nunca tornará a ser.

  Hoje eu gostaria de me permitir fazer uma apropriação, gostaria de contar a história de alguém. É sempre bom começar pela origem e o marco zero sempre é a família.

   A mãe tinha sofrido desde a infância com parentes que pouco a amaram. Foi obrigada a casar nova para não pesar nas despesas. Um erro quase fatal. O casamento que surgiu como um rémedio ruim não pareceu ao longo dos primeiros anos um negócio tão arriscado. Talvez tivesse futuro caso não fosse umas conexões cerebrais falhas, esquizofrenia.

  O primeiro filho veio, a primeira crise esquizofrênica veio, a primeira agressão também. Boom! O castelo era de cartas, o príncipe seu algoz. Nada poderia salvar aquela mulher, mas ela teria que viver as torturas para poder rir de suas vitórias e viveu. Permaneceu em pé, deu a luz mais quatro vezes. Na última ninhada veio os gêmios, uma benção em muitas fámilias. Nessa eles eram mais duas bocas para comer a farinha quando tinha, as folhas de batata doce quando achavam. Mais duas vidas para somar na miséria. Porque sofrimento dificilmente se divide entre quem não pode fazer nada.

  Não, essa não é mais uma história triste inventada para causar comoção, por isso, não vou entrar em detallhes. Eu me apropriei de fatos que não me pertencem, isso é bem verdade, entretanto, ainda devo respeito aos autores da história que se segue. Enfim, as cinco crianças fugiram do algoz. Passaram fome, frio, sentiram medo, mas por misericórdia do acaso sobreviveram todos. Cada um foi crescendo individualmente ao redor da árvore mãe. Ninguém a deixou sucumbir, assim todos eles foram se reerguendo aos poucos e com muito estudo (porque comer não era uma opção, tal como deixar os estudos também não era). Claro, mãos auxiliadoras apareceram para regar e dar força a árvore mãe, pois os mais novos vieram com sete anos de diferença e precisavam vingar para que eu pudesse contar a história de um deles. Sim, é  por um deles que estou aqui. O último de todos me motivou, a menina.

  Ela nasceu no dia 30 de Agosto de 1992, saudável como tem que ser. Seu irmão nasceu miúdo, veio primeiro e não teve a mesma sorte. Nada aparente. Ele veio ao mundo com um problema intestinal grave que quase  tirou sua curta vida. Sete cirurgias ao longo de sete anos para nunca mais perigar deixar aqueles que o amam, a semente sempre foi forte.

  Mas a garota é quem me interessa, não que ela seja melhor do que os outros, é que só me permiti tomar pra si seus fatos.Quando ela nasceu com a carinha bem pequena e redonda sempre sorrindo todos sabiam que ela seria amorosa. Seu desenvolvimento foi normal, uma menina com pinta de moleque. Já que subir em árvores, muros, pular janelas e soltar pipa só podia ser coisa de menino. Ela era um ''menine'', a mistura dos dois. Sua mãe era dura na queda e lhe trouxe algumas dificuldade, não porque era má, mas porque nunca entendeu aquele jeito.

  A ''menine'' sempre teve um ar independente e na maioria das vezes mandona, porém, sempre extremamente carinhosa. Seu jeito durão, pura faixada. Uma coisa ela tinha clara na mente, se ninguém vê, não existe. Ela não chorava por seus sentimentos, não sentia saudades, não dizia a verdade. Como ela mentia! Pensando bem, como ela inventava. Tudo compreesível. Se as coisas eram chatas e intediantes do jeito que ocorriam porque não reeventar, temperar, apimentar? Nunca foi percebida como a inventora que sempre foi.

  A inteligência ou esperteza lhe trouxeram problemas, entretanto, nada a machucava mais do que sua habilidade para perceber as coisas. Sua sensibilidade a matava. Eu sei que enquanto ela crescia tinha que culpar todos que faziam parte de sua vida. Ora, ela sente-se infeliz, não se entende com ninguém, não se entende consigo mesma, só podia ser difícil aturar-se,logo, culpar alguém era mais 'fácil'. Toda a sua sensibilidade perceptiva a tornava muito diferente porque fazia dela um ser capaz de se conectar com o interior de tudo, mas nunca, nunca deixou que ela se apegasse realmente a nada. Tudo era um estudo, uma ciência a ser aprendida. Sua mente a tinha dominado de vez.

  Falando assim até parece que a garota era um ser de outro mundo, na verdade até era, mas do seu próprio. Bem, diferente do que pode parecer ela não tinha nada de especial e se todos estivessem onde ela esteve diriam que a pequena aprendeu a ser assim. Um homem que ela até hoje ela não sabe se o ama ou amou a insinou em boa parte.

  Ele não era mau, mas estragou tudo. Eu via a felicidade dela ao estar com ele, aquilo era um milagre. Ele a entendia, a ensinava sem castigá-la, era bom, tão bom que a 'menine' se apegou. Seu escudo foi quebrado, sua defesa rompida. Ninguém imaginaria que 'menine' fosse precisar se defender daquilo que finalmente era só seu, o amor dele. Eu poderia dizer que foi tudo tão rápido que quando ela viu não podia mais evitar, mas seria mentira. Era difícil não saber no que a obcessão dele resultaria. Abraços mais fores, mãos incontroláveis, respiração ofegante, quase beijos quase roubados. Tudo isso era muito para a 'menine' agora quase mulher segurar sozinha. Ela fugiu. Correu forte, caiu, quase morreu, morreu e decidiu que amar demais daria em morte.

  A decisão difícil (não conclusão) caiu sobre todos que a cercavam, ou melhor, quase todos. A decisão pesou sobre a família, sobre a raiz, a semente. Ninguém foi capaz de lhe dar proteção, coisa que para ela deveria ter acontecido. Por muito tempo culpou sua origem, se afastou deles. Não queria se apegar nunca mais, foi tornar-se sozinha.

  O fim trágico poderia ser presumido caso não fosse os amigos que a encontraram. Eles tiveram trabalho porque ela sentia frio, fome, solidão, tristeza, tudo em intesidade 100. A necessidade de se apegar a qualquer coisa viva que não fosse sua família era pálpavel. Sua fraqueza emocional permitiu que fosse ferida por seus amigos, por seus falsos amigos e por si mesma. Aceitável. O problema era entrar na vida de alguém assim e não sair com vida. Muitas marcas foram feitas antes que a 'menine' tentasse se levantar. Entre elas uma que eu nunca vou esquecer ,já que estive lá e assisti. Foi a que a mão direta infligiu sobre o pulso esquerdo. Sumiu. Não tem cicatriz, mas eu ainda a vejo lá. Todos os fantasmas que ela não vê mais eu os tenho trancado e me ponho de guarda, eu estarei lá. Aprendi e aceitei que ela também tem a mim.

  Hoje, depois de compreender que as pessoas se vão porque a vida é grande e não somente por abandono. Depois de compreender a relevância de se apegar, de ser de algum lugar. Depois de aceitar que tristezas acontecem e sempre aconteceram e acontecerão. Depois de entender que após amar e ser desamada, só resta desamar e amar novamente. Depois do depois só tem o agora e o agora é viver. Depois disso tudo e mais um pouco, ela aprendeu o que me ensinou. De tudo só o que vale é quem fica e quem fica são todos aqueles que fizeram você ser quem é.

  Hoje 'menine' se recusa a não deixar que se apeguem a ela por suas limitações impostas por si mesma. Hoje ela tenta, hoje ela quer e amanhã ela será tudo o que um dia quis ser.





Rafa, ainda penso em você todos os dias. Obrigada por me ouvir.
 


 


















quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sou fera, sou bicho, sou anjo, sou mulher...

É  possível que de tanto passar por um caminho levando um saquinho com sementes de jasmim, que algumas tenham caído sem que eu tenha percebido? É possível que tenham sido regadas com meu suor? Pouco provável, mas possível porque deu flor, cresceu vida.

Essa metáfora ilustra amizades inesperadas, coisa que eu tenho vivido ultimamente. Pessoas que entraram na minha vida para definitivamente me salvar. 


Um dia sem chegadas ou despedidas os encontrei. Eles já estavam lá, cada um em sua posição para impedir que eu caísse e eu os amei por isso.Meus juramentos e promessas em nome dos que já foram emocionalmente foi perdoado pelo frescor das novas amizades. Estou livre dos meus fardos, da minha cruz, dos meus fantasmas. Na teoria. Mas isso não vem ao caso. Todos sabem que esquecer é um processo, porém, se fastar é o começo inevitável dessa jornada.

Enfim,

Sentada no banco sozinha me pus a chorar
Chorar pelos amigos, amores e sabores
Tudo a mesma parte de diversas dores
Todas vindas do peito magrelo, do soluço amargo, da mágoa truncada

Sentada no banco...
Quem é você? E você ? E você?
Nós somos nós
Todos a mesma parte de alguém
Somos você e você nós

Sentados no banco eles e eu
Todos uma parte de uma mesma cor
sem magrelo-soluço-truncado
Sem mágoa da dor amarga

e.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Meu mundo e nada mais

Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades
Que eu sabia...
Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz
Que eu tinha...
Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...
Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...
Não estou bem certo
Que ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura...

Guilherme Arantes

REHAB

É quando a cortina fecha e a luz é apagada no picadeiro que o palhaço faz a festa. Mas uma hora a maquiagem borra e mais a frente a maquiagem saí. Fim do show. Esse palhaço está deixando os palcos, está encerrando sua apresentação.

Agora eu sou qualquer um. Vou para a rua andar de cara limpa, vou me olhar no espelho até saber quem sou. Vou deixar meu último abraço, meu sorriso de pintura. Estou descendo do tablado porque quando a vida não se encaixa, quando a música não acompanha, mais vale viver de esperança.

Sou grata por tudo aquilo que de fato eu tenho, por isso escrevo pra vocês. De todo o meu show só os olhos sempre falaram a verdade, me reconheçam então. Quando nada parece ser para você é momento de construir tudo outra vez.

Com tudo o que ainda resta sobre amar, eu amo vocês.

e.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

De grão em grão essa amizade

Retiro o que pensei em tudo o que não disse
Se não foi doce não foi digno
Retiro tudo o disse e não pensei
Eu não tinha visto você ali

Foi assim que começou a inimizade
Você sentada de costas pra mim
Foi assim que terminou em amizade
Você sentada ao meu lado me fazendo sorrir

Eu não suei, eu não estive lá, não me importei
Eu mudei
Aceitei-te aceitando-a
Sem te entender

Aí como doí!!!

Essa dor está me matatando. Ela vem de dentro e explode na boca, é como se estivesse me rasgando de dentro para fora. Eu não posso chorar, nem gemer, nem comer, nem falar. Aí Deus, isso vai me matar! O pior é saber que será multiplicada em quatro. Pronto, vou enlouquecer. 

Começou repentinamente, eu não sabia que seria assim. Um dia eu acordei e lá estava ela me paralisando, acho que vou me drogar. Qualquer sintético bem forte que seja capaz de expulsá-la porque eu já disse como está difícil não poder chorar, nem gemer, nem comer, nem falar. O pior é saber que eu não posso fazer nada, só aceitar e curtir essa dor esmagadora. Se com um siso é assim, imagina com os outros três que ainda estão por vir.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

     Acabo de crer que a vida foi extremamente cruel por não cruzar nossos caminhos. Ela realmente tinha que chocar um contra o outro? Podia jurar que vi você indo para a esquerda enquanto eu virava para a direita. Eu e minha mania de me enquadrar. Ainda consigo te acompanhar com os olhos, a gente se vê...

    Pensando bem... não quero que vá. Sinto o desejo de abraçar uma boa amizade. Você me acha estranha? Diferente? Minhas doenças são raras. Todas elas eu mesma inventei e para a maioria não existe cura criativa que as tire de mim. Vale a pena correr um alto risco, pois quem pode dizer que não são contagiosas? Sinta-se em casa porque minha vida está aberta pra você. Quer sentar? Chá ou café?
Se vocês veem na moral a verdadeira bondade, tolos são os que pensam que um dia serei boa então. Jamais o serei. Minha pervensão está compreendida justamente na incapacidade que tenho de beber da moralidade. Entenda a sutileza do meu ser e encontrará a bondade que inventei pra mim.
                                                                                                          

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Bendita seja na voz de Mart'Nália

Bendita
Zélia Duncan


Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas

A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma
Passei a noite como um gato vadio. Estou suja de boemia, não que eu me importe de fato porque no fundo não me importo com nada. Me sinta tão única, tão vazia e independente que não preciso de nada para além de absorver tudo. O que me leva a crer que posso ser definida como um evento cosmológico chamado buraco negro. Tenho a mesma falta de princípio, o interminável meio e o desconhecido fim.

Se eu fugir e sair talvez eu chegue aí.

Enquanto antes eu saí em busca do vazio, agora saio para me achar. Não me achar no sentido de me conhecer, mas talvez no sentido de me (re) conhecer. O que estou tentando dizer é que hoje quero me inserir.

Sei que é bom ser de algum lugar, estar em algum lugar ou ser de alguém. Posso dizer isso porque vim de algum lugar, já estive em algum lugar, assim como também já fui de alguém. Essa é a justificativa do meu estado cheio de certezas. Contudo, se me inundo de tais convicções porque não me sinto contemplada com o prazer da satisfação? Bom, de certo tenho me inundado de certezas, entretanto, dia após dia só me ponho a aterrar de questões. Se você é assim como eu, saiba que a firmaza de um casa se encontra tanto em suas estruturas quanto no solo em que se ergue.

Com a cabeça vazia  e não esvaziada, o que é pior, percebo a presença do sol quente queimando meu corpo. Não sinto meu peito pesar. Minha consciência falha, minha morada flutua. E se essa ausência for o que me torna real? Ou seja, se essa ausência (que será definida depois) for parte da minha essência não poderia eu mudá-la. Admito ter conhecimento da corrente de pensamento que diverge dessa afirmativa. Mas  ignorando-a afim de adotar minha suposição como verdade, eu não teria como escapar desse vazio que tanto falo. Seria o fim da minha busca para sempre. Seria o fim da minha maior motivação para escrever. O fim.

Trágica? Eu diria, poeticamente dramática.

Eu não possuo um objetivo conclusivo para o que estou escrevendo. É melhor não esperar um fim, nem eu sei se uma hora ele virá. Enfim, continuando. Eu não faço a menor idéia do que digo e, mesmo que um dia venha a saber, nada teria o que fazer com este conhecimento. Dito o dito, mesmo assim, alguns ainda esperam que eu compreenda a significância dos meus atos. Foda-se! Eu não sei o que estou fazendo. Tudo o que espero é não morrer agora sem ter feito tudo valer a pena. Cômico. Uma boca que sempre abre para dizer que nada tem agora está com medo de perder tudo? Quer saber?Pra porra com minha extravagâncias emocionais! Pra porra com minha racionalidade irracional! Pra porra se eu me contradisser, se eu disser e (des)disser. Foda-se. Eu não sei mesmo o que estou dizendo.

Foda-se tudo realmente, porém, entendo que preciso tomar uma direção. Acabei por me decidir seguir minha natureza livre. Normalmente todos se julgam livres mesmo antes de vir ao mundo, entretanto, eu não poderia dizer que era livre antes de me decidir ser livre. Todos os dias, não importa como fosse, não importa quem fosse, eu tinha que ter para mim. Eu tinha que amá-la. Ser livre dentro das minha palavras significa ser desejante independente do obejeto, ou seja, ser desejante de um qualquer em função de mim mesma.

No fim, seja livre ou não, tudo o que quero é não me sentir mais sozinha. Porque não importa o que for, familiar ou desconhecido, a incapacidade de me apegar é igualmente sentida. Eis aqui por fim a delimitação do que em mim é ausente.

terça-feira, 3 de abril de 2012

A nova velha roupa do rei

     Fiz hoje o que todas as pessoas livres deveriam fazer, caminhar. Não apenas caminhar, mas sair em busca. Hoje saí em busca de algo. Acho que poderia ser qualquer coisa, podia ser até de mim mesma. Foi estranho sair hoje porque não pude me vestir. Eu não era nada. Não era feia, não era bonita, não era esquisita e nem amigavelmente interessante. Estava nua.

     Com o corpo que não pude vestir, obeservei cada canto de rua. Mesmo andando sem direção eu sabia onde estava indo e por qual razão. Eu sabia que no fim acabaria por riscar alguma coisa e desenhar coisa nenhuma. Eu sabia que apenas tentaria.

     Tentei encontrar qualquer rosto, corpo, cheiro, ou som que fosse familiar, contudo, nada. Só consegui sentir raiva por ter que dividir com desconhecidos o que tinha se transformado no meu espaço, um banco cujo lado esquerdo ocupava. Praça pública sempre me pareceu tão tolerável antes. Já não tenho tanta certeza.

     As horas se foram rapidamente. O Sol morreu tão forte e lento que mal pude sentir e de tudo, só me sobrou como companhia as percepções. Percepções da penunbra pré-noite, o vento frio e a invasão continuada quase cruel que teimavam em insindir sobre o meu espaço. Nunca desejei tanto poder ficar sozinha. Acabei me perdendo nesse desejo de tal forma que já não lembro das motivações pelas quais me pus a escrever. Agora tudo está solto e aleatório como quando eu saí de casa. 

     O orelhão toca, pessoas riem alto, músicas ecoam e continuam invadindo meu espaço. Eu que comecei humildemente uma busca, acabei com uma perda. Perdi meu espaço. Então, é hora de ir. Talvez amanhã eu saia novamente e volte para conquistar meu espaço. Talvez eu busque outro(s) espaço(s), mas amanhã. Porque de todas as conquistas que eu poderia ter tido hoje só o completo vazio configura-se como tal.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

E depois da luz vem o direito de enxergar...

''Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida.''

 Pablo Neruda

em:

FILOSOFIA DE APARTAMENTO

-E do amor o que nos salva?


-Nada.. Eu acho..

-Extremamente injusto. Não me lembro te ter escolhido entre a pílula vermelha e a azul. Enfim, seja como for, nada talvez nos salve do amor, porém, o realismo não nos afasta dele com uma brutalidade de natureza covarde? Creio que sim, mas só nos afasta.

- "a imunização racional" ..

-Não sou tão doce quanto você. Prefiro chamar de ''expurgação racional''... mas a ideia é essa

-Expurgar: Limpar, corrigir, sanear.
( é isso! )
    

Se é ou não nunca saberei, mas poderia ser.